Equipe: José Fernando, Kleber Nunes, Paulo Victor, Stefani Brizza

Cap. 1: Conceitos: mídia radical e teoria da mídia

 – Cultura popular, audiências e mídia radical

O autor começa a discussão buscando diferenciar culturas populares, culturas de massa e culturas de oposição. Para Downing a culturas populares e a culturas de massa estão entrelaçadas, delas surge muitas vezes a cultura de oposição, que para ele é a capacidade do indivíduo de processar e redefinir as mensagens da mídia de massa (audiência ativa). A mídia radical é uma alternativa que constitui a forma mais atuante da audiência ativa e expressa tendências de oposição, abertas e veladas, nas culturas populares. (p. 33 e 34)

 – Definindo a cultura popular

Para Adorno e Horkheimer a cultura de massa – o produto das indústrias comerciais de publicidade, rádio e teledifusão – é “uma versão espúria e até mesmo implicitamente fascista das necessidades do público”, a qual sufoca o espírito do questionamento. Já a cultura popular é uma “expressão autêntica das visões e aspirações do público, como na música e na arte folclóricas, e tinha um inerente potencial de oposição”. (p. 34 a 36)

Downing considera a classificação dos frankfurtianos muito simplista, e cita Jesús Martín Barbero para reafirmar que a cultura popular e a cultura de massa estão intrinsecamente ligadas, além do que, essa perspectiva dualista apresenta uma falha séria: a cultura popular pode perfeitamente ser elitista, racista, misógina, homofóbica e nutrir preconceitos relativos à idade e ainda assim expressar valores de forma inventiva e superficialmente atraentes. Um exemplo é o papel da mulher nos contos de fada. A cultura popular é mais abrangente que a cultura de oposição. A cultura de oposição recorre e contribui para a cultura popular e a cultura de massa. (p.36 e 37)

 – Definindo audiências

A cultura compõe-se não apenas de textos ou outros artefatos, mas também do modo como são recebidos e utilizados. É preciso diferenciar a cultura popular da audiência: cultura popular, para a Sociologia, serve para categorizar de forma genérica a produção cultural e à sua recepção pelo público, enquanto que a audiência serve ao mundo empresarial como uma designação específica dos grupos (espectadores, ouvintes e leitores) derivados das estratégias de mercado. (p. 37)

O autor apresenta um novo conceito, a audiência ativa, formada pelo grupo que elabora e molda os produtos da mídia, e não apenas absorve passivamente suas mensagens. (p. 38)

 – Definindo Mídia Radical

O termo cultura popular, concentra-se na matriz da mídia radical alternativa. Esse tipo de mídia hoje vai além do uso das tecnologias, ela inclui uma gama de atividades como o teatro de rua, a dança entre outras manifestações comunicacionais. A mídia radical não está interessada na audiência por ser domesticada pelo mercado a ser estática e efêmera. A mídia radical propõe a seu público o debate, a crítica e a ação (p. 39 a 42)

 Cap. 2: Poder, hegemonia, resistência

 – O conceito de poder

 O que é poder? Existem várias definições do que é poder nas inúmeras correntes sociais. Porém o autor prefere seguir a do anarquismo socialista que tem grande influência sobre a mídia radical alternativa, isso porque o anarquismo socialista dá ênfase nas múltiplas realidades não só a econômica, ao contrário do marxismo puro, por exemplo, que vincula toda análise à economia política. O autor reforça sua tese citando David Wieck que afirma: “qualquer teoria que situe o segredo da libertação humana em algo tão específico quanto a política de propriedade negligencia a interdependência das muitas libertações”. (p. 43 a 45)

 – A noção de hegemonia de Gramsci

Nas décadas de 20 e 30 Gramsci produziu texto que refletiam sobre o poder, o capitalismo e a cultura dos europeus, latino-americanos e norte-americanos. Porém ele não se dedicou tanto aos temas econômicos e sim a cultura e ao poder. A partir daí Gramsci concluiu que a expansão e consolidação do capitalismo aconteceram através de órgãos de informação e cultura, como escolas, universidades, igrejas, literaturas, meios de comunicação e ideologias corporativas. E essa hegemonia capitalista se sustenta, até hoje, no poder das minorias. (p. 45 a 47)

Gramsci argumentava que a perspectiva oposta de futuro da nação, a da hegemonia socialista, seria construída com o passar do tempo através do engajamento das massas. Ao contrário da hegemonia capitalista que defende a subordinação dos trabalhadores assalariados e pequenos agricultores, a hegemonia socialista incluiria a maioria do público, cujas demandas e prioridades a fariam desenvolver-se sempre mais. Esse movimento político majoritário seria em grande parte liderado – mas nunca deveria ser manipulado ou tiranizado – por um partido comunista. (p. 47)

Seja como for, qualquer que seja nossa suposição sobre alguns dos aspectos específicos da análise de Gramsci, é razoável reconhecer que certas formas de liderança organizada são essenciais para coordenar os desafios à hegemonia ideológica do capital e propor programas e perspectivas alternativos dignos de créditos. Nesse sentido, seu “intelectual orgânico” quase poderia ser reinterpretado como “comunicador/ativista”, visto que, para Gramsci, o termo intelectual jamais se referia a pessoas que se opõem a pensar grandes pensamentos, que só elas e um pequeno círculo compartilham. Gramsci esperava que os comunicadores intelectuais/ativistas se integrassem organicamente com as classes trabalhadoras para o desenvolvimento de uma ordem social justa. (p. 48)

Influenciados por Gramsci, mais tarde, outros escritores trouxeram as noções de contra-hegemonia e contra-hegemônico como forma de categorizar as tentativas de contestar as estruturas ideológicas dominantes e suplantá-las com uma visão radical alternativa. Muitos dos meios de comunicação radicais alternativos pertencem a esse modelo. Ao mesmo tempo, a perspectiva de Gramsci oferece uma nova maneira de entender essa mídia. Numa estrutura em que as classes e o Estado capitalista são analisados meramente como controladores e censores da informação, o papel da mídia radical pode ser visto como o de tentar quebrar o silêncio, refutar as mentiras e fornecer a verdade. Esse é o modelo de contra-informação. (p. 48 e 49)

 A colocação de Gramsci se aplica perfeitamente em sociedades aparentemente menos tensas, onde a hegemonia capitalista exerce a autocensura por meio dos profissionais da mídia convencional, ou outros intelectuais orgânicos em posições de autoridade. Nesses cenários a mídia radical tem a missão não apenas de fornecer ao público os fatos que lhe são negados, mas também de pesquisar novas formas de desenvolver uma perspectiva de questionamento do processo hegemônico e fortalecer o sentimento de confiança do público em seu poder de engendrar mudanças construtivas. (p. 49 e 50)

 A mídia radical pode ser interpretada de duas maneiras: como necessária para construir a contra-hegemonia, mas desfrutando um poder apenas temporário, somente nos períodos de tensão política, ou como parte do anseio de expressar o diruptivo e profundamente arraigado descontentamento das massas. (p.50)

 – A análise da resistência de Scott

O antropólogo James C. Scott afirma que cada classe social ou grupo antagonista tem uma declaração pública para o que considera estar fazendo e uma declaração privada que circula apenas dentro do grupo. A infrapolítica, diz Scott, expressa os níveis reais e privados de resistência e raiva, relativos não só à exploração econômica que as pessoas enfrentam, mas também ao “padrão de humilhações pessoais que a caracterizam”, “surras arbitrárias, violações sexuais e outros insultos”. A infrapolítica dos pobres faz eclodir uma série de atos de resistência, alguns muito sutis, alguns intencionalmente ambíguos. Ou no caso das elites poderosas, a infrapolitica representa seu transcrito oculto de desprezo e raiva aos pobres. (p. 51)

 – Múltiplas fontes de opressão

  A comunicação tem a ver com compartilhar com discernimento a gama de questões que flagelam a vida social, tal como percebidas, tal como percebidas a partir de inúmeros pontos de vista, e compartilhar as possíveis soluções para elas é muito mais condizente com o potencial da mídia do que qualquer outra instituição contra-hegemônica, como um partido, um sindicato ou um conselho. A resistência, em outras palavras, é resistência às múltiplas fontes de opressão, mas requer, por sua vez, diálogo nos diversos setores – por sexo, raça, etnia, e nacionalidade, por exemplo. A mídia radical alternativa é central nesse processo. (p. 53)

 Cap. 3: Movimentos sociais, esfera pública, redes

– Movimentos sociais e mídia radical

O autor, baseando-se em outros autores como Arato e Cohen, oferecem três classificações para o termo movimentos sociais. O primeiro diz respeito às rebeliões de massa, o segundo nos movimentos como atores sociais e o terceiro classifica os meios como forma de afirmação da realidade e reconhecimento. Mas este esquema era extremamente ocidental e não permitia que outros tipos de manifestações que  não se enquadravam na visão de identidade coletivista dos NMSs (termo usado para esta linha de pensamento dos movimentos) ficasse à margem da classificação, como o a tentativa de inclusão de afro-brasileiros no Brasil, por exemplo. Era como haver muita teoria para a criação de uma identidade em detrimento da prática e modificação real. (p. 56-57)

Os partidos políticos não são tão sensíveis as necessidades profundas  do público quanto os movimentos sociais. Isto porque estas instituições oficiais da democracia estão, geralmente afastado da maioria do público, legislando em nome de uma massa, por sua vês, heterogênia. Ao passo que o diálogo e o debate público é facilitado  Isto não significa dizer, porém que os movimentos são construtivos por natureza. Muitas vezes, eles podem ter um caráter racista, antiimigrante ou sexista. Também por isso, não é incomum conflitos, cisões tanto por subculturas e forças de fronteiras, como de oposição aos movimentos. (p. 58-59)

Apesar da pouca atenção de pesquisadores no que diz respeito à mídia e a afirmação de uma crise por esta forma de comunicação, no entanto, o autor defende a que a propagação da mídia radical tem sido uma constante. (p. 60)

– Habermas e a Esfera Pública

O conceito de esfera pública (Offentlichkeit) de Habermas é, até hoje, amplamente discutido e recebe diversas interpretações. Mas, ela é mais aceita e entendida como uma esfera onde ocorre o debate, ou ocorria (segundo Habermas este debate desapareceu).

Este debate começou a desaparecer quando o controle da política oficial nas monarquias europeias começou a se extinguir, ganhando espaço os folhetos, os volantes e os primeiros jornais circulantes em áreas fora da corte. (p. 61-62)

Críticos marxistas como Oskar e Negt, criticaram este pensamento pessimista de Habermas e falaram sobre a importância do proletariado discutir as questões, encabeçando a agenda a fim de discutir passado, presente e futuro o que geraria a identificação de zonas alternativas para o debate radical e a reflexão dentro da sociedade. (p 63)

Assim como a massa é heterogenia, a esfera pública também está inserida na pluralidade e dentro na esfera vigora outras esferas na periferia e dentro dos movimentos fomentando a comunicação, a informação, o debate, etc, sobre os temas do momento. (p. 64)

Utilizando os estudos de Raboy, deve-se ao foto de ser ela a primeira a articular, difundir e analisar questões. Que, muitas vezes, somente depois entram na pauta da mídia convencional. (p. 65)

Embora a mídia radical esteja fortemente atrelada aos movimentos sociais não se deve deixar que eles fiquem circunscritos, pois as mídias, mesmo que silenciosamente, estão mantendo vivas questões e desenvolvendo novos temas para conversa.
Esses temas suscitam discussões que muitas vezes passam direto na mídia convencional, e aquelas manifestações, logo esquecidas já que se privilegiam as notícias e fatos rápidos, são esquecidos pela nossa memória. Um exemplo são as Mães da Praça de Maio na Argentina que, por mais de 20 anos, lembram os horrores da Ditadura enquanto a maior parte da mídia convencional, já esqueceu há tempos. (p. 66-67)

Essas discussões precisam crescer mais e mais a fim de se chegar ao entendimento comum a todos e que seja forte o bastante para abalar a hegemonia da estrutura do poder (p. 68)

 – O papel das redes de comunicação

A separação ente comunicação interpessoal e mídia tende a dificultar o entendimento entre mídia radical e redes sociais, pois a partir do momento que estas duas estão entrelaçadas a esfera pública torna-se tangível fazendo a relações se expandir para além do racional e metódico. Como sair do discurso, da teoria e ira para a prática, manifestando as ideias. Um exemplo são as redes religiosas da Revolução Iraniana onde circulavam materiais proibidos. (p. 70)

 Cap. 4: Comunidade, democracia, diálogo e mídia radical

– O vago conceito de comunidade

O conceito de comunidade é amplo, mas, assim como as massas e as esferas, esbarra na pluralidade do que é comunitári, pois, somente para o poder corporativo transnacional ou ao Estado Nacional é que é possível dar a impressão de homogeneidade.

– Modelos de Democracia

Os teóricos que escreveram sobre a democracia cometeram um erro classificado como grave por Downing. Eles desvincularam Mídia e Democracia, deixando o primeiro restrito a pequenos espaços dentro de seus textos acadêmicos. Logo, o autor chega a conclusão de que se não há comunicação, não há seres humanos em seus estudos, e, portanto, nem mesmo mídia. Mas, claro que se existiam seres humanos existia vida e também comunicação.

Para Downing, a mídia radical é a viga mestra da comunicação democrática uma vez que comparada a sua escassez de recursos, tem muito mais poder de transformação que a mídia convencional. (p. 78-79)

 – Macpherson e o poder de desenvolvimento

Na democracia do poder, Macpherson defende que é essencial ao público usar e desenvolver suas capacidades para só assim mudar a realidade a que estão submetidos. Dessa forma, iriam contra o cinismo dos produtores que sabem da real potencialidade das audiências, mas justifica a ausência pela subnutrição, falta de moradia, analfabetismo, etc. É neste cenário que surge o poder do desenvolvimento já que esbarra, nas massas, nas dificuldades do poder político e econômico. O conceito de poder de desenvolvimento pode ser usado como base para noções de contra-hegemonia e esferas públicas já que apresenta simbiose com os movimentos sociais.

Características da mídia radical:

1)expande o âmbito das informações a partir da troca, do diálogo, aspecto no qual a mídia convencional sai perdendo por não dar espaço as audiências

2) Como tem muita relação com os movimentos sociais, ela acaba sendo mais sensível e espontâneo pontos de vista que poderiam, por ventura, ser ridicularizados por outros meios.

3) Os assuntos pautados muitas vezes saem da mídia radical para a tradicional. Possibilitando um fluxo “inverso” do discurso, do menos numero para o mais numeroso)

4) A não censura que não está submetido aos interesses do patrão e às leis de mercado da propaganda.

 – Mídia Radical e diálogo

Downing utiliza para corroborar afirmações sobre a importância do diálogo nas mídias os autores Freire e Bakhtin. O sociólogo Freire, mesmo que engajado principalmente da alfabetização, pode ser usado como paralelo no que diz respeito às mídias. Pois, a interação, a troca  de Freire podem ser análogos a relação produtor/audiência uma vez que também se requer, para a comunicação, o diálogo, propondo a democracia do processo de comunicar-se o que atinge também, de maneira positiva, os movimentos sociais. (p. 82-83)

Já o teórico Bakhitin via nos romances literários um importante meio de contestação da realidade e deveria conferir uma posição de destaque nos discursos internos a fim de quebrar o discurso uniforme e oficial que vigora. E neste contexto, também é possível um paralelo com a mídia radical, que serve como esfera pública democrática e dialógica na cultura popular. (p. 84-85)

 – Comunicação e democracia

Para alguns teóricos, como Carey, o exercício da democracia ficou restrito ao voto já que a mídia oficial deixou de estimular a conversa pública e restringiu a democracia às eleições políticas e espetáculos de debates manipulados. Por este motivo, o debate dentro dos movimentos sociais utilizando-se da cultura serve para barrar as estruturas opressivas e manipuladoras. (p 86-87)

O teórico Freidland vai mais além. Além de reforçar a participação dos movimentos sociais neste processo, ele defende, ainda, as ações de cidadão engajados unindo-se em diferentes papéis para examinar e participar das discussões sobre projetos, discutindo sobre ele e introduzindo modificações. (p.89-90)

– O preço da participação

Durante alguns momentos da história a mídia convencional tentou excluir os trabalhadores da esfera pública cobrando preçços muito altos pelos seus produtos, como o caso do de jornais diários do século XIX.

Antes do advento da técnica rotativa, a mídia impresa era muito barata e por isso existiam vários jornais operários. Depois dela, os custos diminuíram a sua produção. Do mesmo modo, depois que as novas tecnologias, como câmeras de vídeo e gravadores foram surgindo, só restava aos operários a mídia escrita, agora mais barata. Atualmente, a forma mais barata para as mídias altenativas é a internet, mas continuam existindo formas de comunicação que não dependem de tecnologias, é o caso de grafite, camisetas, canções, teatro de rua, etc. (p. 90-91)