Equipe: Andressa Anjos, Crisluce Maria Sobral, Cristiane Menezes Condé, João Gabriel Brito, Maria Clara Albuquerque, Maria Paula Benning, Raissa Nascimento, Sthéphanie Melo
“Novos tempos, novas perguntas e, com exceção daqueles satisfeitos com a situação presente, todos clamam por novas respostas” (p. 20).
“O mundo passa por intensas transformações técnico – científicas e, ao mesmo tempo, vê-se envolvido por fenômenos de desequilíbrios e contradições que ameaçam a vida e a humanidade. Mas, apesar das dificuldades e das desilusões, algumas experiências de envolvimento popular na comunicação comprovam que o homem e a mulher encerram a potencialidade de ser sujeitos da história. Ser sujeito e não mero objeto é a essência da condição humana” (p. 23).
- Capítulo 1: Movimentos sociais populares no Brasil
“São contingentes de pessoas que vão perdendo valores intrinsecamente humanos, como o respeito pelo semelhante, a solidariedade, e a gratuidade, enquanto ajudam a valorizar cada vez mais a ganância e o individualismo. E assim o homem vai se tornando objeto, mercadoria, coisa manipulável, em detrimento de sua essência e do caráter de sua espécie” (p. 26).
“O homem tem como essência a potencialidade de ser sujeito da história. Alienando-se ele perverte os seus valores próprios, transformando-se em objeto. Nessas condições, ele se deforma, se embrutece, se desumaniza” (p. 26).
“Temos ocupado as primeiras posições na exportação de alimentos, apesar de um terço do povo brasileiro se achar vitimado por subnutrição grave, o que estaria gerando uma sub-raça em vias de ser definitivamente afetada em sua estrutura corporal na formação cerebral” (p. 27).
“A sociedade brasileira está sempre mudando, num movimento constante cuja origem está na contradição e na diversidade, no conflito entre forças contrárias que ora confluem ora se repelem, daí surgindo o novo. E assim ele vai construindo sua história, ora convalidando, ora rejeitando o status quo” (p. 29).
“A luta pela sobrevivência e princípios culturais individualistas, como os que se expressam no ditado popular “quem pode mais, chora menos” e na supervalorização do mundo material, vão coisificando cada vez mais o homem. E o resultado? Gente sofrida extraindo do lixo o seu alimento” (p. 29).
“A compreensão emergente da população quanto à precariedade de sua existência e suas privações; a percepção da necessidade de ação coletiva para interferir nos processos decisórios do poder público e das empresas privadas” (p. 31).
“Os movimentos sociais são usualmente reconhecidos apenas como locais ou ‘paroquiais’ em suas perspectivas, descontínuos e efêmeros em sua existência, cingidos a experiências comunitárias de democracia direta e organizados ao redor de reivindicações específicas, que postulam ao Estado a atenção a demandas concretas, cuja satisfação redundaria em geral em sua desmobilização ou extinção” (p. 34).
“[…] duas maneiras distintas de se conceberem os movimentos populares, as quais se arraigam em concepções teóricas e políticas de fundo: Subordinação (os movimentos são formas inferiores de mobilização, que devem evoluir para formas mais plenas e satisfatórias de atuação política e partidária e a sindical), Cooperação (os movimentos populares são formas de organização e mobilização populares tão importantes quanto os partidos políticos e os sindicatos. Os movimentos seriam forças autônomas agindo num espaço não coberto por partidos e sindicatos e, com isso, complementando-os no processo de peleja política). […] Nesse sentido, os movimentos constituem uma tentativa de romper o oligopólio do partido na oferta de participação política, ampliando a esfera dos canais legítimos. E assim, apesar de suas limitações, vão ocupando o seu lugar na sociedade, contribuindo para construir a cidadania” (p. 34).
“Os movimentos são formas inferiores de mobilização, que devem evoluir para formas mais plenas e satisfatórias de atuação política e partidária e a sindical” (p. 35).
“A questão é não subestimar as organizações sociais não-partidárias nem superestimar as organizações partidárias e sindicais – e vice-versa. Elasse completam sendo todas as formas de organização salutares ao esforço de democratização da sociedade” (p. 37).
“E assim os movimentos sociais populares, apesar de suas limitações, vão ocupando o seu lugar na sociedade, contribuindo para construir a cidadania. Trata-se de um processo que envolve a diversidade, porque nossa sociedade é pluralista demais para afunilar-se sob a direção de uma única organização político-partidária” (p. 37).
“A mídia concedeu amplos espaços a essas manifestações, que para o Estado não passavam de afrontas. Alguns teóricos começaram a ver nos movimentos a grande esperança de mudança social” (p. 40 e 41).
“O fortalecimento dos conselhos populares encarregados de temáticas específicas, com assentos garantidos para os representantes dos movimentos populares, é um dos grandes marcos dessa nova fase pela qual estes passam. Já não se tem mais receio em sentar à mesma mesa com o governo e o empresariado para discussões e negociações” (p. 43).
“Os movimentos populares são forças que se manifestam de modo bastante fragmentário e difuso. Todavia, a prática mostra que em determinados momentos, quando os objetivos se tornam comuns, eles se revelam de maneira mais orgânica” (p. 47).
“A proposição de Gramsci de que um grupo social pode ser dirigente já antes de torna-se governante, sendo essa uma das condições principais para a conquista e manutenção do poder” (p. 50).
“No caso brasileiro, a crise, desde a fase de decadência do regime militar, é concreta, mas complexa e contraditória. Em geral, adquire formatos de problemas econômicos, políticos, sociais e morais. É discutível se nos últimos anos do autoritarismo a tensão vivida chegou, ou não, a configurar-se em conflito orgânico entre estrutura e superestrutura, muito embora o deslocamento entre governantes e governados tenha sido momentaneamente explícito. Uma coisa é certa: a classe burguesa, com a abertura ‘abertura gradual’, do ‘governo transitório’, foi hábil o suficiente para reorganizar o bloco histórico, mudando apenas algumas regras do jogo e os atores políticos para continuar no poder” (p. 51).
“Quando de sua emergência, os movimentos sociais tiveram como grandes animadores membros das comunidades eclesiais de base e de outros grupos ligados à Igreja Católica. […] Em seus encontros, essas entidades passaram a fazer uma leitura combinada da Bíblia e da realidade, procurando compreender a necessidade da participação, da ação coletiva e da prática concreta – e não só a oração – como compromisso do cristão para melhorar as condições de vida da população” (p. 52 e 53).
“Os movimentos sociais populares têm limitações e podem ser transitórios, mas desde o contexto em que despontaram até os dias atuais manifestam características inovadoras. […] Os movimentos ocupam um espaço cujas expectativas e reivindicações os canais vigentes não estavam conseguindo absorver, como aqueles relacionados às necessidades de moradia, de melhorias e de acesso a bens de consumo coletivo, às discriminações raciais e sexuais, às condições gerais de vida. Todavia, no decorrer do processo, também esses vão se fortalecendo como instrumentos de luta dos trabalhadores” (p. 54).
“As novas estruturas sociais – ou os novos núcleos – que as organizações populares vêm construindo, e que são da maior relevância na práxis democrática, podem ser aglutinadas em: núcleos de socialização, núcleos culturais, núcleos econômicos e núcleos políticos. Essas são novas estruturas que, elaboradas pelos movimentos sociais, representam um movimento de mudança por dentro da sociedade. Muito embora não se apresentem como forças dominantes e dirigentes nesse momento histórico, estão aí construindo um novo tipo de poder e ajudando a democratizar a sociedade” (p. 55 e 56).
“A pressão dos movimentos populares e as evidências da deterioração das condições de vida, acrescida, às vezes, de interesses político-eleitorais, provocam mudanças no interior do Estado, que vai se abrindo às reivindicações” (p. 58).
“É visível que as organizações populares passam a ser cada vez mais levadas em conta como interlocutoras coletivas, pelos órgãos públicos” (p. 59).
“Segundo Durham, os movimentos sociais forjam a cidadania e unificam os interesses e as lutas da população heterogênea. A vivência em situação de igualdade ou de ‘cunho comunitário’, tanto pelas condições devidas que atingem a todos quanto pela participação de cada um, seja falando, opinando ou decidindo, está favorecendo a constituição da pessoa no plano político. Desenvolvem-se assim valores coletivos, como as noções de igualdade, direitos, democracia direta, autonomia, participação da mulher, solidariedade e gratuidade, os quais passamos a explicitar um pouco mais” (p. 60).
“Os movimentos populares organizam-se “segundo o lugar de trabalho ou de moradia, segundo algum principio comunitário que os agrega”, sem distinção de qualquer natureza. Envolvem desde o operário, que também faz luta no bairro, até funcionários públicos, subempregados, donas-de-casa, trabalhadores, autônomos, etc” (p. 60).
“Os movimentos populares vivenciam diferentes etapas e momentos distintos. Existem aqueles que já atingiram graus elevados de organização, articulação, ação coletiva e consciência política, enquanto outros estão começando ou se acham numa fase intermediária ou estão tentando se recuperar de refluxos. Por isso, é impossível ver neles uma homogeneidade ou mesmo um padrão único em sua experiência democrática, que alguns exercitam mais do que outros, embora todos se pautem de alguma forma pela democracia direta, existindo até mesmo aqueles onde s lideranças agem autoritariamente” (p. 62).
“A opção pela autonomia foi se tornando cada vez mais difícil para os movimentos populares com pouca experiência de organização coletiva e de prática e consciência política, por vários motivos. Primeiramente, a pressão exercida pelo poder público e pelos partidos de direita, de várias formas: cooptando lideranças, trocando favores prestando serviços de cunho assistencialista e formando organizações locais paralelas atreladas às entidades governamentais. Depois, uma certa tendência favorável a práticas clientelísticas enraizadas na cultura do povo. Por fim, os esforços de militante de partidos de esquerda no sentido de direcionar os movimentos ou fazer deles suas bases de sustentação” (p. 66).
“Ocorrem com frequência casos de líderes que, depois de certo aprendizado, passam a candidatar-se a cargos de representação política, abandonando o movimento, o que se dá por indicação deste ou por opção pessoal, podendo os motivos residir na consciência da necessidade de participação popular nos canais legislativos, mas também em outros interesses. Assim, tem-se verificado que, ancorados numa visão da utilidade dessa opção para viabilizar conquistas mais expressas para os movimentos populares, membros destes ou das comunidades eclesiais de base têm recebido estímulos para o engajamento político-partidários à esquerda. Na prática essa militância, por vezes além de ocupar o tempo antes dedicado aos movimentos e afastar deles suas lideranças, implica o enquadramento da pessoa em certa fidelidade partidária, que, se transplantada de forma direta para as organizações populares, pode prejudicar a sua caminhada, que é pluralista por natureza” (p. 67 e 68).
“Os movimentos sociais populares representam estruturas novas que podem vir a contribuir na formação de um duplo poder. São criações da sociedade civil, que a vão democratizando, exercendo um papel do qual os canais tradicionais de representação não estavam dando conta. Além do mais, não tiram espaços destes, mas, pelo contrário, pode somar esforços com eles. São depositários de experiências da democracia direta, surgindo, talvez, para complementar a democracia representativa” (p. 69).
“As mulheres vão quebrando o tabu de uma “vocação” que restringe suas atividades aos afazeres domésticos e passam a envolver-se ativamente em movimentos sociais. Sua participação, geralmente superando a dos homens, não se limita só às organizações especificamente femininas, mas estende-se a praticamente todas as outras e às comunidades eclesiais de base, assumindo até posições de liderança” (p. 70).
“Nas condições do Brasil e de outros países latino-americanos, onde os povos não têm tradição nesse sentido [de participação nos mecanismos decisórios], aliado isto à reprodução de valores autoritários, à falta de conscientização política e a outros fatores, pretender alcançar um grau de participação mais elevado é algo de difícil concretização” (p. 73).
“Nossas tradições e nossos costumes apontam mais para o autoritarismo e a delegação de poder do que para assumir o controle e a co-responsabilidade na solução dos problemas” (p. 74).
“O certo é que o autoritarismo é resultado histórico da formação econômica, social, política e cultural brasileira e, como produtos dessa dinâmica, estamos impregnados de alienação e de acomodação” (p. 75).
“Diante dessa situação, concordamos com Demo, ao afirmar que a participação não é dada, é criada. Não é dádiva, é reivindicação. Não é concessão, é sobrevivência. A participação precisa ser construída, forçada, refeita e recriada” (p. 75).
“A participação da população nas decisões, a menos usada no Brasil contemporâneo, implica, o exercício do poder em conjunto, de forma solidária e compartilhada, como participação-poder” (p. 77).
“Estabecem-se relações de dependência e de “freguesia” com alguém que ‘doa’ benefícios, cuja retribuição esperada é o voto na época de eleição” (p. 81).
“O fato é que, satisfazendo o trabalhador, ativando a sua criatividade, este não só se realiza como rende mais” (p. 82).
“Na história do homem, já se de ha muito a esperança de uma sociedade justa, sem desigualdades nem explorações e opressões tem dado origem aos movimentos revolucionários concretos de trabalhadores, bem como as elaborações teóricas de seus intelectuais orgânicos” (p. 89).
“O processo para se alcançar essa sociedade livre e igualitária desencandeado com a revolução ‘proletária’ e a consequente tomada do poder político pelos trabalhadores, passaria pela extinção da propriedade social, além da eliminação dos métodos desordenados de produção, das classes sociais e do Estado, que não teriam mais razão de existir” (p. 92).
“Segundo Motta, anarquia “não deve ser entendida aqui como sinônimo de desordem, mas sim como sinônimo de sociedade libertadora” (p. 94).
- Capítulo 3: Comunicação popular
“As investigações sobre a comunicação popular implicam a necessidade de a teoria abarcar os processos no contexto mais amplo em que se realizam, ou seja, devem ir além do estudo do meio comunicativo em si mesmo de um jornal, por exemplo, pois a dinâmica social na qual este se insere é que vai lhe dar significados” (p. 114).
“Numa conjuntura em que vinha à tona a insatisfação decorrente das precárias condições de existência de uma grande maioria e das restrições à liberdade de expressão pelos meios massivos, criaram-se instrumentos ‘alternativos’ dos setores populares, não sujeitos ao controle governamental ou empresarial direto. Era uma comunicação vinculada à prática de movimentos coletivos, retratando momentos de um processo democrático inerente aos tipos, às formas e aos conteúdos dos veículos, diferentes daqueles de estrutura então dominante, da chamada ‘grande imprensa’. Nesse patamar, a ‘nova’ comunicação representou um grito, antes sufocado, de denúncia e reivindicação por transformação, exteriorizado sobretudo em pequenos jornais, boletins, alto-falantes, teatro, folhetos, volantes, vídeos, audiovisuais, faixas, cartazes, pôsteres, cartilhas, etc” (p. 114 e 115).
“[a comunicação popular] é resultado de um processo, realizando-se na própria dinâmica dos movimentos populares, de acordo com as suas necessidades. Nessa perspectiva, uma de suas características essenciais é a questão participativa voltada para a mudança social” (p. 115).
“A maioria dos estudos de comunicação popular, na perspectiva dos movimentos sociais, parte do pressuposto de que povo são as classes subalternas, econômica e politicamente, às classes dominantes” (p. 117).
“Povo não tem estatuto teórico e universal, não se podendo, portanto, vê-lo sob uma categoria de análise prefixada. É preciso apanhá-lo em seu contexto, como uma realização histórica, cuja composição e cujos interesses variam em função de fatores determinantes, estruturais e conjunturais, constituindo-se sempre num todo plural e contraditório” (p. 117 e 118).
“Falar de uma comunicação ‘popular’ também envolve conotações diversas, destacando-se, a nosso ver, três correntes em seu estudo: popular-folclórico, popular massivo, popular alternativo” (p. 118).
“Alguns autores têm chamado a comunicação popular de alternativa – além de muitos outros adjetivos que lhe são atribuídos, como comunitária, participativa, dialógica, horizontal, usados geralmente como sinônimos. Contudo, na bibliografia corrente, se faz uma distinção entre os termos popular e alternativo. No Brasil, a expressão ‘imprensa alternativa’ tem recebido conotação específica, entendendo-se por ela não o jornalismo popular, de circulação restrita, mas os periódicos que se tornaram uma opção de leitura crítica em relação à grande imprensa” (p. 120).
“É necessário levar em consideração que por comunicação popular se podem compreender processos variados, o que lhe confere características singulares” (p. 122).
“Num primeiro momento, ela foi identificada como aquela comunicação simples, de circulação limitada, produzida quase artesanalmente por grupos populares. Em seguida, passou-se a dizer que ela ‘não se refere ao tipo de instrumento utilizado, mas ao conteúdo das mensagens’, vendo-se como expressão dos interesses, do ‘conteúdo das classes subalternas’, entendido este enquanto crítico-libertador. Depois aparecem aqueles que sustentam que não são os meios técnicos em si que definem a comunicação popular, nem tampouco são os seus conteúdos. O alternativo estaria no processo de criação conjunta, diálogo, construção de uma realidade distinta na qual a pessoa seja sujeito pleno. O que torna a comunicação popular é a sua inserção num contexto alternativo […], [caracterizado] por sua tendência a romper a ordem do capital, integrar aquilo que o fragmenta” (p. 123).
“[…] o significado da comunicação popular está em ser um fenômeno emergente, do povo ou com ele relacionado, comprometido com a mudança social e a transformação deste em sujeito histórico” (p. 124).
“[…] fundamentos da concepção de comunicação popular relacionada aos movimentos sociais. Expressão de um contexto de luta: é o meio de conscientização, mobilização, educação política, informação e manifestação cultural do povo. É canal por excelência de expressão das denúncias e reivindicações dos setores organizados da população oprimida. Conteúdo crítico-emancipador: as mensagens que se transmitem nessa comunicação são de acordo com a opção que as pessoas (…) vão fazendo, (…) que vai se gestando geralmente por meio de uma organização popular, na qual os objetivos são claros e de acordo com as lutas de um povo em prol de sua libertação” (p. 125).
“Espaço de expressão democrática: [a comunicação popular] é um espaço de comunicação democrática, vinculada aos interesses dos segmentos subalternos da população, tanto em sua metodologia quanto a sua forma e em seu conteúdo. […] Ela perpassa as relações interpessoais e grupais e ali ajuda a construir a base de nova cultura popular” (p. 126).
“O povo como protagonista: a comunicação popular tem como protagonistas o próprio povo e/ou as organizações e pessoas a ele ligadas organicamente. Nesse caso, ele é visto no seu antagonismo em relação às classes dominantes e concebido como o conjunto das classes subalternas” (p. 127).
“Instrumento das classes subalternas: a comunicação popular é entendida como a das classes subalternas, realizada num processo de luta de classes. Nesse caso, ela é vista como oposta ao modelo massivo em poder das classes dominantes, o qual é encarado como impositivo, alienante ou pervertedor dos interesses populares. […] Essa postura de opor os meios populares aos massivos sofreu uma profunda revisão nos anos noventa, em função das mudanças que ocorrem na sociedade” (p.127 e 128).
“[…] opor a comunicação popular e os meios massivos não é uma idéia compartilhada por todos os estudiosos da área. […] Na prática, os meios de comunicação popular, apesar de sua importância e de seu significado político, não chegam a colocarem-se como forças superadoras dos meios massivos. Os dois são complementares e não excludentes” (p. 130).
“Há que se reconhecer o grande poder da mídia e sua manipulação, prioritariamente, a serviço dos interesses das classes dominantes, mas nem por isso ela deixa de dar sua contribuição ao conjunto da sociedade. […] Os veículos de comunicação massiva não são, portanto, necessariamente, ‘perversos’ com relação aos interesses populares. […] Muitas experiências, principalmente no setor da radiofonia, têm demonstrado sua potencialidade quanto a um trabalho educativo na perspectiva emancipadora. O fato é que a comunicação popular também pode valer-se deles” (p. 131).
“A tendência é repudiar a mídia massiva talvez tenha até influenciado a elaboração de uma comunicação popular não tão atraente, que atribui um espaço e um valor muito reduzido ao entretenimento, ao lazer, às amenidades, ao humor e ao lúdico” (p. 132).
“Os meios de comunicação de massa, segundo estudos da época, em síntese: estão nas mãos da burguesia; orientam-se pela unidirecionalidade e verticalidade; privilegiam os objetivos e a ideologia das classes dominantes; criam hábitos de consumo por meio de persuasão; ocultam ou desvirtuam a realidade” (p. 134).
“A crença de que os meios manipulam as consciências ignora a dimensão fundamental da pessoa humana e, portanto, seu universo cultural, para aceitar que os valores do povo são construídos por aqueles veiculados pelos meios massivos. […] Os movimentos sociais voltaram as costas para o massivo como uma forma de buscar uma aproximação com as massas, esquecendo-se de que em nosso continente a instituição que mais conseguiu se aproximar das massas, por se apropriar de seu modo de pensar, falar e ver o mundo, foi a indústria cultural” (p. 136).
“Como a sociedade, a cultura não é algo estático. Em seu movimento, nas décadas de setenta e oitenta, ela tem sido reflexo não só da reprodução de valores e da criação e recriação de outros, mas também da introdução da utopia” (p. 138).
“Não é pertinente, hoje, pensar-se numa cultura dissociada da mídia. Afinal, na práxis cotidiana, o popular no sentido conscientizador não se isola do massivo. O gosto pela programação melodramática e por cenas de violência, por exemplo, continua vivo, o que não quer dizer que o medo de pensar de segmentos expressivos da população não tenha mudado em nada” (p. 139 e 140).
“Comumente, sob o ponto de vista teórico, a comunicação popular é entendida numa perspectiva de igualdade entre emissor e receptor. Mas essa noção em geral é adotada abstratamente” (p. 140).
“É muito comum meios populares serem produzidos por uns poucos e estes fazerem suas próprias interpretações das necessidades de informações e de outras mensagens dos receptores. Neste sentido, pode estar havendo uma certa reprodução do dirigismo e do controle por parte de lideranças e/ou instituições mediadoras da comunicação popular” (p. 141).
“A participação popular na comunicação comunitária pode significar, numa gradação crescente: o simples envolvimento das pessoas, geralmente ocasional, no nível das mensagens, ou seja, dando entrevistas, avisos, depoimentos e sugestões ou cantando.” (p.142)
“A participação das pessoas pode tanto concretizar-se apenas em seu papel como ouvintes leitores ou expectadores quando significar o toar parte dos processos de produção planejamento e gestão de comunicação” (p. 145).
“Os movimentos sociais populares brasileiros estão construindo algo de ‘novo’, expressando interesses coletivos que trazem em seu interior um esforço pela autonomia e por um ‘quefazer’ democrático, num novo espaço de ação política, e contribuindo, assim, para a elaboração de outros valores” (p. 148).
“Se a comunicação dos movimentos sociais representa um campo rico de significado político-cultural, ela, por outro lado, também passa por muitas limitações: abrangência reduzida, inadequação dos meios, uso restrito de veículos, pouca variedade, falta de competência técnica, conteúdo mal explorado, instrumentalização, carência de recursos financeiros, uso emergencial, ingerências políticas, participação desigual” (p. 149).
“Os meios atingem, geralmente, apenas uma parcela de leitores, ouvintes e espectadores potenciais. Um jornal ou boletim informativo, por exemplo, só chega a um número, restrito de moradores do bairro e, quase sempre, àqueles já “conscientizados” ou sensibilizados para a luta” (p. 149).
“É comum a utilização de algum tipo de veículo de comunicação sem maiores preocupações com sua apropriação ao público-alvo” (p. 149)
“Apesar de todas essas limitações, não deixam de ocorrer também experiências avançadas, que, envolvendo efetivamente a participação conjunta, contribuem para uma comunicação popular realmente útil ao processo de educação para a cidadania: diversificação de instrumentos, apropriação de meios e técnicas, conquista de espaços, conteúdo crítico, autonomia institucional, articulação da cultura, reelaboração de valores, formação das identidades, mentalidade de serviço, preservação da memória, democratização dos meios, conquista da cidadania” (p. 155)
“A comunidade popular, ao abordar temas locais os específicos, tende a despertar o interesse por parte da audiência, pelo fato de o conteúdo e os personagens terem relação mais direta com as pessoas. Os programas não são espetáculos a que se assiste, mas dos quais se participa, o que leva a incrementar o processo de construção das identidades e de cultivo dos valores históricos e culturais.” (p.157)
- Capítulo 4: Rádio participativa no âmbito dos movimentos sociais
Primeira Parte
Alto-falantes
▪ Quatro modelos: 1. Organizações populares; 2. Duas pessoas comprometidas; 3. Melhorias na comunidade visando prestígio; 4. Veiculação de anúncios e patrocínio. (pág. 159)
I. Rádio do Povo
▪ Villa El Salvador, Lima: a partir de aulto-falantes montados nos grupos residenciais do assentamento promovido pelo governo, o Centro de Comunicação Popular local dispôs de uma emissora de rádio e uma de TV. (pág. 160)
▪ A experiência inspirou o projeto de Comunicação Não-Escrita da Zona Leste II (Proconel) e educação popular de São Miguel Paulista (Cemi), que criou a coordenação das rádios do Povo, em São Paulo.
▪ Implantação das rádios: carência de bens necessários à vida
▪ Rádio do Povo de Vila Nossa Senhora Aparecida: educação popular
1. Objetivos
▪ A Rádio do Povo queria tratar de assuntos sobre a comunidade e de interesse da comunidade para fins de valorização e luta por mudanças democráticas: “saúde, educação, menores, esporte, cultura, religião, trabalho, organização comunitária e informação de atualidade”. (pág. 162)
2. Participação popular
▪ Direção da emissora: operários, agentes pastorais, donas-de-casa e estudantes de jornalismo. (pág. 163)
▪ Produções com participação popular: depoimentos, entrevistas, produtos da criatividade popular, recados, solicitação de músicas
▪ A direção tem o poder de decisão e a democratização das veiculações respeita os preceitos da Igreja Católica
II. Rádio Popular de São Pedro
▪ Fica em Vitória, capital do Espírito Santo (pág. 165)
▪ Prestação de Assessoria em Comunicação: estudo e análise
▪ Pesquisa em duas etapas: 1. Meados de 1985 aos primeiros meses de 1989; 2. Até julho de 1991
1. O contexto
▪ O lugar foi objeto de estudo de diversos pesquisadores. “Isso se explica pelos movimentos reivindicativos que ali se formaram, dotados de acentuado nível de organização, pela prática de atividades comunitárias e pela adoção de estratégias de sobrevivência desenvolvidas pelos próprios moradores numa situação de extrema pobreza e miséria que caracterizou e ainda caracteriza, em algumas partes, a vida da população que ali mora”. (pág. 167)
▪ População: “A maioria é constituída basicamente de biscateiros, catadores de lixo, operários, pescadores, domésticas e alguns funcionários públicos de nível médio”.
▪ O povo representava uma base eleitoral em potencial (valorização imobiliária) (pág. 168)
▪ Organizações populares diversas
2. A emissora
▪ Articulação: lideranças locais, pessoas de bairro, jornalistas e professores da Universidade Federal do Espírito Santo (pág. 169)
▪ Audiência em potencial: cinco mil pessoas
▪ (…) “ multiplicar as lideranças; anunciar e denunciar; divulgar informações; proporcionar momentos de lazer à população; despertar o espírito crítico diante dos meios de comunicação social e dos noticiários; e o desenvolvimento de especialistas nesse tipo de veículo”. (pág. 170)
▪ Oficina de trabalho
3. Uma rádio popular no ar (1985-1989)
▪ Os equipamentos da rádio foram financiados pelo Centro de Estatística Religiosa e de Investigações Sociais. Mais tarde, eles receberam recursos da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (pág. 171)
▪ A escolha da programação aconteceu mediante sondagem com o público-alvo, o que eles gostariam de ouvir e qual seria o melhor horário
▪ Quando a rádio entrou no ar (2 de agosto de 1986), cerca de 500 pessoas estavam presentes
▪ Diante de algumas dificuldades, como carência de um estúdio próprio e fitas cassetes, a equipe resolveu investir em cursos para locução e um programa aos sábados (pág. 172)
▪ A equipe final tinha dez pessoas e as reuniões para decisões eram semanais
3.1. Programação
▪ (…) “vinheta de abertura; leitura de um texto-mensagem; reportagem; comentário; avisos; horóscopo: espaço aberto (para cartas de ouvintes oferecendo músicas para outros); momentos de visita; e músicas. Depois foram sendo introduzidas inovações como dicas de preços praticados na feira-livre que coincidia com o horário da irradiação; parabenização dos aniversariantes do mês; propaganda de comerciantes locais; seções especiais em datas comemorativas (por exemplo, o Dia da Criança).” (pág. 172)
▪ A programação era totalmente voltada para realidade da comunidade especialmente com temas específicos como eleições. A resposta vinda do público estava sendo positiva. A participação popular era muito importante.
3.2. Política
▪ A rádio deveria “ser independente e democrática; ter um conselho no nível de movimentos; envolver sempre o povo; dar voz ativa aos grupos organizados; abrir espaços para debates com todos os partidos e não só com um.” (pág. 174)
▪ A participação popular acontecia mediante o envio de mensagens, todas as outras decisões eram tomadas pela equipe, porém, de forma democrática diante da aceitação e ajuda de líderes locais.
▪ Por causa de divergências políticas entre dois participantes, o restante se dispersou. Apesar de desfalcada, a emissora continuou no ar
4. Tentando voltar às origens (1989-19991)
▪ Uma nova fase se inicia na rádio a partir da inserção de mais integrantes, jovens estudantes convidados pela liderança, e outras tomadas de decisão como a sede que cogitava-se mudar de lugar (pág. 175)
4.1. Uma avaliação
▪ Em uma reunião, realizada no dia 7 de setembro de 1989, que objetivava discutir o futuro da rádio, os seguintes pontos foram abordados: “objetivos da rádio; saída dos equipamentos; membros e normas internas; cursinho de capacitação.” (pág. 176)
▪ A maioria dos assuntos abordados relacionava-se com disputa de poder. As divergências iam de programação até liberação de equipamentos para utilização externa
4.2. Crise na programação
▪ Por uma questão de deficiência dos equipamentos, alguns programas não iam ao ar e a programação foi ficando desfalcada. Em dois meses de pesquisa estacionados, por motivo de estágio dos pesquisadores no exterior, a rádio só funcionou duas vezes. As lideranças resolveram, então, financiar os equipamentos em época de eleição na Assembléia Legislativa Estadual (págs. 179 e 180)
5. Fragilidade
▪ Pontos desfavoráveis apontados durante a análise da emissora: falta de responsabilidade, irregularidade da programação, impropriedade da linguagem, desestruturação organizativa, ausência de planejamento, deficiências de edição, carência de sustentação financeira, ausência de humor e de criatividade popular, inadequação do local e restrição da participação (págs. 180 a 184)
6. Potencialidade
▪ Pontos favoráveis observados: serviços prestados à comunidade, dedicação, integração com a realidade local e abertura à participação popular (págs. 184 a 186)
7. A questão da participação
▪ O que há de mais positivo na experiência da segunda fase da rádio é a composição desta por pessoas da comunidade para fins educativos. A participação popular através do envio de mensagens foi um fator analisado (pág. 186)
7.1. Produção do programa
a) Participação da equipe
▪ Havia distribuição informal de tarefas que eram executadas por quem estivesse lá (pág. 187)
▪ A produção era feita no ato da execução do programa, não havia planejamento
▪ As decisões finais passavam pelo crivo de uma liderança por inexperiência dos outros participantes e pó que mais ninguém havia para ocupar este cargo
b) Participação da comunidade
▪ Apesar de muitas convocações, durante a programação, para que a população participe, ficava muito difícil perante a falta de maios que facilitassem isso como equipamento móvel para entrevistas (pág. 188)
7.2. Planejamento do meio
a) Participação da equipe
▪ Tanto na primeira fase da rádio como na segunda, os participantes não traçaram um planejamento eficaz para a utilização da aparelhagem técnica da emissora, bem como recursos financeiros, técnicos e normas (pág. 189)
b) Participação da comunidade
▪ Mediante essa falta de planejamento, não se poderia esperar que houvesse participação dos moradores (pág. 190)
7.3. Gestão da organização
a) Participação da equipe
▪ A gestão era feita pelas lideranças que se uniram por afinidades político-partidárias e, também, porque não haviam princípios ou normas explicitamente claros o que resultou numa administração confusa
b) Participação da comunidade
▪ A participação da comunidade não foi levantada no período de pesquisa
8. Uma visão de conjunto
▪ A intenção da rádio era democratizar. Não houve intenções percebidas de implantar uma co-gestão ou uma gestão. No entanto, as participações populares estavam comprometidas ao crivo das lideranças. A pesquisa constatou influências de um partido de esquerda
9. A desventura de um meio
▪ A rádio continuou a funcionar de forma precária até parar de funcionar (pág. 191)
- Capítulo 5: Rádio participativa em contextos históricos específicos
“A rádio revolucionária procura sustentar e defender um regime político instaurado quando, pela luta armada, conquista o poder do Estado” (p. 215)
“A rádio guerrilheira é um veículo de difusão de mensagens com vistas a angariar a simpatia para ações armadas, buscando criar o consenso em torno delas e o apoio popular em termos ideológicos e de prática política” (p. 215)
“A rádio livre é aquela que, numa conjuntura conflitiva ou não-conflitiva, ocupa um espaço no dial dos receptores sem ter recebido a concessão de um canal, sendo, por isso, também conhecida como ‘clandestina’, ‘pirata’ ou ‘alternativa’. […] Tem, ou não, uma linha política explícita, podendo tanto contemplar finalidades políticas, comerciais, hobísticas e até pornográficas quanto servir à comunidade ou a uma ideologia. Em geral, representa uma forma de contestar o sistema de radiodifusão vigente, que priva a maior parte das organizações da sociedade civil do acesso às ondas sonoras” (p. 216)
“Em entrevista a Cadernos do Terceiro Mundo, Ortega afirmou: ‘Pelos resultados eleitorais, algumas pessoas podem pensar que a revolução foi derrotada. E eu lhes garanto […] que não foi. […] É possível uma derrota eleitoral da Frente Sandinista sem que tenha sido derrotada a revolução? Sim, porque, quando derrubamos a ditadura somozista, apresentamos uma proposta nova, diferente, que significava um desafio para a imaginação e a criatividade dos revolucionários da América Latina e do Caribe: forjar uma sociedade democrática, pluralista, de economia mista e não-alinhada’” (p. 220)
“No período que estamos analisando, a carta-magna nicaragüense assegurava o direito à informação – a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias por quaisquer meios (art.66), a ser visto como uma responsabilidade social e exercido com estrito respeito à constituição e sem censura prévia (art.67), devendo os meios de comunicação estar a serviço dos interesses nacionais (art.68)” (p. 222)
“Em termos de jornais, os três principais eram: Barricada, El Nuevo Diario e La Prensa. Os dois primeiros, apesar de ligados à revolução, eram dirigidos por membros dissidentes da família Chamorro, proprietária direta do terceiro, que sempre foi um jornal de oposição – primeiro ao somozismo, depois ao sandinismo” (p. 223)
“O jornal La Prensa e, com ele, o setor mais conservador da cúpula católica foram muito explorados pelos Estados Unidos, como instrumento de pressão e de propaganda anti-sandinista, até a transição do poder no país. Por razões históricas, ‘depois do triunfo da revolução, os partidos políticos […] e as organizações gremiais da burguesia careciam de legitimidade para chegar às massas, reservando-se esta possibilidade ao jornal La Prensa e à Igreja Católica como instituições’” (p. 223-224)
“A mesma agência norte-americana, com o auxílio de mercenários, para os quais se chegou a elaborar um manual de operações psicológicas, também se valia amplamente de rádios do exterior. No país captavam-se setenta e seis sinais de emissoras estrangeiras de ondas médias, curtas e de freqüência modulada. ‘A maior parte de suas mensagens, durante o período de guerra, tinha o objetivo de minar a confiança do povo nicaragüense em seu governo’” (p. 224)
[…] “’conjugar a todo momento os objetivos políticos da revolução com as necessidades de informação e diversão do povo’. Nesse processo usaram-se táticas interessantes, mediante uma programação mais atraente, sem discursos revolucionários longos e monótonos[…]” (p. 225-226)
“’Com o triunfo da revolução, o povo desfrutou pela primeira vez de uma ampla liberdade de expressão. Esta […] evidencia-se em programas como ‘De cara al pueblo’, onde há um intercâmbio verbal horizontal. […] O modelo vertical e autoritário entrou em crise. […] A aparição das massas como protagonistas desse novo processo histórico obrigou a revisar a prática. […] Ratifica-se mais uma vez a estreita relação que existe entre a política e as maneiras de expressão que existem na sociedade. […] Em última instância, o modelo político prevalecente tem como resultado que os nicaragüenses tomam parte de uma sociedade falante, de uma sociedade viva, de uma sociedade visível” (p. 226)
“A participação nos meios de comunicação não era, portanto, uma mera casualidade ou uma concessão, mas uma necessidade política, uma forma de ampliar e garantir o envolvimento do povo no processo revolucionário” (p. 227)
- Participação popular nas rádios
1- Rádio Segóvia:
“Sua programação voltava-se mais para o dia-a-dia dos camponeses, que constituem mais de 70% da população local. Era uma das emissoras onde a experiência participativa mais se desenvolveu no período revolucionário” (p. 228-229)
“Antes tínhamos um caráter quase mercantil, embora não fizéssemos publicidade comercial. Mas nossa mensagem à população era de caráter vertical, um pouco autoritário” (p. 229)
“A partir de então, ela começou a realizar seminários e reuniões de reflexão. ‘Tratava-se de encontrar uma forma de passar o microfone ao povo. Agora vamos até os camponeses e fazemos diretamente com eles o programa que transmitimos pela rádio. Assim começamos a conhecer um pouco de sua vida. […] Ele não significa só propiciar o acesso ao gravador e ao microfone. O meio tem que conviver com a população, falar sua linguagem, sentir seus problemas e também buscar soluções’” (p. 229)
“Apesar de ser estatal, ela admitia críticas às instituições, ao governo e ao Estado, o que, de acordo com Banegas, não cerceava os patrocínios. Casos de corte de anúncios por parte de quem se sentiu muito agredido eram raros. ‘Temos sido claros com as organizações, provando-lhes, com as gravações, que quem as levantava era o povo, ao qual não se pode negar esse direito” (p. 230)
“Fazia-se o planejamento prévio de 60% das atividades, ficando o restante por conta da demanda, do momento e da conjuntura. Nele se envolvia todo o pessoal da emissora. ‘Se dizemos que somos uma rádio participativa, temos que começar em casa’” (p. 230)
2- Rádio Sandino:
[…] “o partido político que se achava no poder e, conseqüentemente, o próprio Estado eram quem promovia esse tipo de participação. Em geral, o que sai da boca do povo censura e põe em cheque o que fazem as entidades e o governo. Como, então, estes permitiam ser questionados e cobrados? Pelas explicações que nos foi dado obter informalmente, isso ocorria porque lideranças sandinistas perceberam na ação de alguns órgãos uma série de distorções, que tinham origem, principalmente, na burocracia e na dificuldade de mudar certos vícios” (p. 231)
[…] “o programa não ficava só na denúncia e na reivindicação, mas na mesma hora ia até os alvos, procurando descobrir porquês e encaminhando soluções” (p. 231)
“Nesse tipo de programa, a emissora abre espaço para a denúncia e dá seqüência ao processo até a solução do problema. Há uma relação direta e de reciprocidade entre emissor e receptor, que chegam a se confundir no processo de comunicação” (p. 232)
- Integração das emissoras populares estatais
“A entidade (Corporación de Radiodifusión Del Pueblo) foi criada ‘com o propósito de conduzir o trabalho que […] vinham desenvolvendo as diversas emissoras confiscadas ou abandonadas por seus donos, por suas ligações [anteriores] com o governo somozista. […] [Ela] respondia à necessidade de um organismo central para respaldar as rádios regionais, do nascente Estado revolucionário, nos aspectos financeiros, administrativos, técnicos e políticos” (p. 233)
“Em 1983, também passaria a colaborar com as emissoras na capacitação técnica de seu pessoal. E, num terceiro momento, em 1985, daria um grande salto, promovendo e incentivando a rádio participativa” (p. 233)
“’A rádio participativa não é – nem será nunca – um modelo acabado, uma receita fixa. Como a própria vida, […] [ela] avança e retrocede, se faz e se retifica na experiência de cada dia’” (p. 233-234)
[…] ”Se antes só trabalhavam em função de seus objetivos informativos e culturais, a partir de então tiveram que preocupar-se com a sobrevivência. A introdução da publicidade comercial tornou-se uma necessidade. Mas a entidade orientou as associadas para que não violentassem sua programação nem sua linha participativa por interesses de rentabilidade econômica” (p. 234)
[…] “ela [Coradep] contribuía com seminários sobre gêneros jornalísticos, ações participativas e formatos de programas, cursos específicos para locutores, disk-jockeys, produtores e radialistas, além de estágios em emissoras regionais e da capital” (p. 235)
- Rádios Guerrilheiras na América Latina
1- Experiência Cubana:
“Segundo Fidel Castro, em discurso de 1973, a emissora [Rádio Rebelde] foi utilizada ‘para transmitir informações sobre a situação militar e dar os resultados das batalhas e dos combates. […] Ela nos permitia comunicar-nos entre nós’” (p. 236)
“Politicamente, ela era um meio de informação e mobilização do povo. Estrategicamente, um instrumento de concatenação e organização das táticas militares adotadas pelos insurretos” (p. 236)
2- Experiência Nicaragüense
“A emissora [Rádio Sandino] ‘fazia reiterados chamados à luta e ensinava ao povo, de maneira pedagógica, como manejar todo tipo de armas e preparar explosivos’” (p. 237)
[…] “a Rádio Sandino foi ‘o principal instrumento de incitação à insurreição e à greve’. […] Sem uma rádio para orientar o movimento de massas […], não teria havido o triunfo revolucionário” (p. 238)
3- Experiência Salvadorenha
“Nesse momento, as forças revolucionárias buscavam formas alternativas de comunicação […]. [Foi aí que] a Rádio Venceremos passou a ter um importante papel de iniciar a reorganização das lutas políticas” (p. 239)
[…] “sua programação voltava-se exclusivamente para informações, perspectivas e atitudes a tomar com relação à guerra. Nos intervalos, como todas as emissoras similares, transmitia, de forma insistente, músicas extremamente chocantes, que fomentavam o clima de luta” (p. 240)
“Eram muitas as vantagens que ele oferecia como instrumento capaz de, sem grandes investimentos financeiros, promover a comunicação instantânea entre as populações das cidades e dos mais longínquos rincões, onde outros meios têm acesso mais restrito dentro da realidade latino-americana” (p. 234)
[…] “elas foram aparecendo como forma de protesto contra o controle estatal da radiodifusão, de contestação da política de concessão de canais, de fruição do poder de comunicar, de expressão política ou de posse de uma unidade econômica produtiva” (p. 242)
- O Brasil reivindica o acesso às ondas
“As rádios livres, mesmo que algumas possam ter sido decorrência de aventuras sem maiores pretensões políticas, são, no conjunto, um protesto contra a forma de acesso aos instrumentos massivos e uma tentativa de conquistar a liberdade de expressão a qualquer preço. Elas contribuíram para o debate sobre a estrutura dos meios de comunicação no Brasil, que também teria lugar na Assembléia Constituinte, mas nunca veio a empolgar setores representativos da sociedade nem conseguiu grandes avanços no texto da nova Lei Magna promulgada em 1988” (p. 245)
“Enquanto isso, continuam em vigência a lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962, o decreto-lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967 – pelo qual o uso das ondas sem a devida autorização constitui crime punível com a detenção do autor, precedida, liminarmente, de busca e apreensão da estação ilegal […]” (p. 246)
“Enquanto isso, a Rádio Globo de Criciúma, ainda segundo os entrevistados, era toda voltada para o povo, que dizia o que lhe interessava ou não e era respeitado. Ela sabia que era muito ouvida, pela quantidade de visitas e cartinhas que recebia e também pela resposta aos apelos que lançava no ar. […] E, ao conclamar os ouvintes para um protesto contra o regime autoritário e a união em torno do movimento pelas ‘eleições diretas já’, cerca de 80% dos moradores apagaram as luzes por um minuto” (p. 249)
“Pode-se ver em sua estrutura interna quatro características: primeiro, não houve a formação de lideranças no grupo, responsabilizando-se todos em igual medida pela rádio; segundo, não se estabeleceu qualquer hierarquia, tanto no nível decisório quanto no do exercício das funções; terceiro, o processo de criação era compartido por todos; quarto, a aprendizagem era coletiva, na medida em que experiências individuais eram repassadas e vivenciadas por todo o grupo” (p. 249)
“A Rádio Globo de Criciúma conseguiria a façanha de sobreviver por cinco anos” (p. 250)
- Rádios livres comunitárias:
“Comunitárias seriam aquelas que, tendo como finalidade primordial servir à comunidade, podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento social e a construção da cidadania. Este não é o caso, por exemplo, das rádios que só têm caráter comercial” (p. 253)
[…] “as grandes emissoras tentam ‘barrar o avanço das rádios comunitárias, que estão na prática democratizando a comunicação, dando voz aos excluídos e construindo um novo conceito de comunicação com a participação direta da comunidade, o que assusta os poderosos que sempre dominaram os meios […] e hoje se vêem obrigados a dividir o dial, o ar e […] a audiência” (p. 256)
“A rádio comunitária vende espaços para anúncios e busca patrocínios culturais, mas canaliza os recursos arrecadados para custeio, manutenção ou reinvestimento e não para o lucro particular” (p. 257)
[…] “programação que tende a ter um vínculo orgânico com a realidade local, tratando de seus problemas, suas comemorações, suas necessidades, seus interesses e sua cultura” (p. 257)
“Ela possui um sistema de gestão que envolve a participação direta da comunidade, por meio de órgãos deliberativos como os conselhos e as assembléias” (p. 257)
“Ela democratiza o poder de comunicar, proporcionando treinamento a pessoas da própria comunidade, a fim de que adquiram os necessários conhecimentos para produzir programas e falar no microfone, por exemplo” (p. 259)
- Capítulo 6: Outras experiências de comunicação participativa
[…] “a comunicação participativa na Nicarágua sandinista […] durante a guerra civil, setores organizados passaram a usar formas alternativas, clandestinas, para elevar o nível de consciência e combatividade do povo” (p. 259)
“O jornalismo de catacumba […] ‘Foi um jornalismo ágil e dinâmico. Conseguiu realizar no circuito da linguagem o que Pasqualli chama de relação comunicacional. Emissor e receptor intimamente ligados, confundidos […] Chegaram a cobrir vinte e quatro igrejas em Manágua, repetindo-se a experiência em León, Matagalpa, Masaya, Granada e Carazo’” (p. 260)
“a comunicação verdadeira passa por um intercâmbio de vozes e interesses entre os emissores e os receptores, permitindo que todos passam falar em condições iguais; e que se devia ser criativo na busca de outras maneiras de diálogo com o povo” (p. 260)
“Em 1981, a Unión de Periodistas de Nicaragua, num congresso, estabeleceu que uma de suas linhas de ação seria a formação dos correspondentes populares. […] As próprias associações de trabalhadores, emissoras de rádio regionais e partidos políticos passaram a pedir cursos de capacitação para os membros designados para essa tarefa, entre os quais havia aqueles que mal tinham aprendido a ler ou nem sabiam escrever, mas queriam enviar notícias” (p. 261)
“Os correspondentes populares […] era gente do povo, que usavam a linguagem dos camponeses, abordando os problemas e o dia-a-dia destes, o que ampliava a sua capacidade de influenciar e garantir a audiência” (p. 264)
“A revolução nicaragüense havia sido feita para resgatar o povo da opressão e permitir-lhe desenvolver-se em liberdade” (p.265)
“uma outra prática participativa, representada pelo cassete-fórum, […] intercambiando mensagens gravadas em fitas sonoras, esse tipo de veículo permite estabelecer um diálogo entre a base de uma organização popular e o seu núcleo dirigente, assim como dos grupos de base entre si, numa comunicação de duas vias” (p. 265)
“O cassete-fórum implica todo um processo no que se refere à produção e circulação das mensagens entre as duas direções” (p. 265)
“Emissão e distribuição: a coordenação central produz uma mensagem igual, sobre um tema, um problema ou uma proposta em comum, grava-a em um só lado das diversas fitas, que são enviadas a todos os grupos” (p. 266)
“Audição e retorno: cada grupo ouve, comenta e discute a mensagem, registrando as suas opiniões […]no outro lado da fita original, que é devolvida a coordenação central” (p. 266)
“Decodificação e análise: todas as fitas recebidas são avaliadas pela coordenação central, que decodifica e analisa as mensagens vindas das bases” (p.266)
“Edição e reenvio: as mensagens, depois de selecionadas, resenhadas e editadas com as palavras dos próprios participantes, acrescidas de uma nova proposta comum, são postas em outras fitas, de novo enviadas a todos os grupos, para que cada um se informe das opiniões dos demais e possa confrontá-las com as suas próprias” (p. 266)
“as mensagens circulam num fluxo de ida e volta, tornando-se todos os envolvidos, alternadamente, emissores e receptores” (p. 266)
“O homem popular descobre o valor de ‘dizer sua palavra’, como escreveu Paulo Freire” (p.267)
“Para Kaplún e Merino Utreras, são muitas as vantagens do cassete-fórum como meio de comunicação” (p.267)
“Para a coordenação central não se requerem senão fitas, uma simples sala de gravação e um copiador, […] Os grupos de base só precisam de gravadores, […] além de as fitas poderem ser reutilizadas” (p.267)
“Flexibilidade: cada grupo realiza seu fórum no dia e na hora que lhe forem mais convenientes” (p. 268)
“Registrada, a mensagem não se perde facilmente no ar, como no rádio, pois pode-se ouvi-la mais de uma vez, voltar a fita para repetição de passagens durante as discussões e reproduzi-la para ser trabalhada por outros grupos” (p. 268)
“O sistema não depende da obtenção de um espaço, como o rádio, que custa caro e, mesmo podendo-se pagá-lo, as vezes, é de difícil acesso para fins de educação popular, mormente e horários adequados” (p.268)
“Quando os grupos começam a fixar e a ouvir sua própria voz reproduzida, […] o meio-gravador vai perdendo seu poder de dominação e seu prestígio até certo ponto ‘místico’. Eles vão se acostumando a manejá-lo” (p.268)
“O fato de oferecer a possibilidade de os grupos participarem de viva voz no programa é uma das principais vantagens do cassete-fórum” (p.268)
“Os grupos populares podem expressar-se na linguagem simples e corrente de seu dia-a-dia, tornando-se a comunicação mais rica, viva e autêntica” (p. 268)
“Foram muitas as experiências feitas com cassete-fórum, no âmbito da educação popular, em países latino-americanos. Aqui exporemos alguns aspectos de uma iniciativa uruguaia, que, idealizada por Mário Kaplún, foi desenvolvida de abril de 1977 a março de 1978, pela Calforu – Cooperativa Agrária da Sociedade de Fomento Rural” (p.269)
“Ela enfrentava o problema da escassa consciência associativa dos pequenos produtores, tendente ao individualismo e à resistência a soluções comunitárias” (p.269)
“Os objetivos específicos da experiência posta em prática […] resumiam-se em: estabelecer um fluxo de informação bidirecional, da coordenação central para as bases e vice-versa; criar canais de consulta e de tomada de decisões em comum; estimular uma participação mais ativa dos afiliados; […] tornar mais dinâmico o movimento cooperativo rural, atraindo a juventude às suas bases […] fomentar a intercomunicação das cooperativas de base entre si, de modo a se sentirem como partes de um todo” (p. 270)
“A instituição deu início ao processo, preparando e distribuindo quinzenalmente uma fita-cassete. Os grupos, ao recebê-la, faziam uma reunião, dirigida por um membro escolhido por todos. Ouviam uma mensagem, descutiam-na e depois gravavam no outro lado suas dúvidas e sugestões, além de propostas de novos temas, devolvendo-a à central. Uma equipe escutava e analisava o feedback, elaborando a seguir uma nova fita, que reproduzia algumas das contribuições vindas das bases, acrescidas de respostas a questões levantadas, de reportagens e do tema para o fórum seguinte” (p. 271)
“A prática mostrou que os grupos se limitavam a analisar sumariamente as propostas da direção central e que os canais abertos, de forma efetiva e permanente, não eram aproveitados na medida esperada” (p. 272)
“Os camponeses revelavam-se pouco receptivos às soluções comunitárias” (p. 273)
“A experiência mostrou como reproduzir valores ideológicos e culturais é mais fácil do que transformá-los. Por isso, é necessário superar triunfalismos, como o de se achar que a comunicação popular é necessariamente libertadora, e assumir uma atitude crítica ante as suas mensagens” (p. 274)
- Capítulo 7: A comunicação popular na construção da cidadania
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece, em seus artigos 27 e 29, que todos os homens têm o direito de participar livremente da vida da comunidade e que, por outro lado, têm deveres para com esta mesma comunidade, na qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade” (p. 275).
“A participação popular é um direito humano, um dever político e um instrumento essencial de construção nacional” (p. 275).
“A histórias mostra que as nações respeitam esses princípios fundamentais em menos ou maior grau, dependendo da cultura de cada povo, das oportunidades, da conjunção de forças e dos interesses dominantes” (p. 275).
“No Brasil e em outros países latino-americanos, ela (a comunicação social) tem sido obstacularizada pelo Estado e por setores dominantes, que, por sua posição hegemônica ou pela imposição, acabam ganhando a cumplicidade da sociedade como um todo, embora haja resistências” (p. 275 e 276).
“Dentro de toda dinâmica histórica, instituições, grupos e movimentos sociais das classes subalternas vêm constituindo um processo de auto-organização e de comunicação” (p. 276).
“Em matéria de comunicação, não basta incentivar o envolvimento. É necessário criar canais para tanto e mantê-los desobstruídos” (p. 276).
“A era pós-industrial é uma síntese do progresso e do atraso” (p. 276).
“Urge que os meios massivos poderosos, ao mesmo tempo em que desenvolvem um elevado padrão tecnológico, artístico e mercadológico, também o façam no campo filosófico, para o bem da sociedade como um todo, em sua pluralidade e diversidade, revendo a filosofia que os leva a serem movidos mais por interesses econômicos e políticos de determinados segmentos” (p. 277).
“Não é suficiente e não leva a muita coisa pôr-se simplesmente as manipulações realizadas pelos grandes sistemas de rádios, televisões e jornais. Há que se procurar ocupar os espaços abertos e propugnar pelo acesso a esses veículos, por sua descentralização e por seu reordenamento ético-político” (p. 277).
“Para Demo [Participação é conquista, 1988, p. 67 a 69], a participação tem como objetivos: a autopromoção, a realização da cidadania, a definição das regras do jogo, o controle do poder, a moderação da burocracia, a prática da negociação e a construção de uma cultura democrática” (p. 278).
“Significa a pessoa deixar a condição de “paciente” de outros e de instituições, sob os aspectos político, social e econômico” (p. 279).
“A burocracia pública é um fenômeno deprimente quando ‘voltada para si mesma, emperrada e alienada do serviço à comunidade’” (p. 280).
“É no dia-a-dia, no relacionamento com as instituições que afetam diretamente a vida das pessoas, como uma associação de moradores ou poder público local, que se firmam os alicerces da educação para a cidadania” (p. 282).
“Quer dizer, é preciso haver comunicação, sem a qual não pode existir a participação, segundo Bordenave” (p. 283).
“A ‘polis’ integralmente constituída correspondia a uma sociedade politizada, na qual a esfera pública ocupava um território mais amplo na vida dos cidadãos e estava situada num plano muito mais elevado de importância do que os assuntos privados dos indivíduos. […] A ‘polis’ baseava-se na ação coletiva, portanto, na liberdade coletiva. A cidadania refletia a integração do indivíduo à coletividade política” (p.284 e 285).
“Dependendo do período histórico e do país ou lugar, só uma parcela da população pode exercer plenamente a cidadania” (p. 285).
“A cidadania é conformada por três tipos de direitos, que podem configurar-se, ou não, de maneira mais abrangente ou mais restrita, na práxis de um povo: os civis, os políticos e os sociais” (p. 286).
“A ampliação da cidadania levará o homem e a mulher a serem, cada vez mais, sujeitos e não objetos da história” (p. 287).
“No Brasil, como em outros países latino-americanos, as conquistas, no que se refere a uma participação política, tem sido crescentes” (p.287).
“O mesmo não está ocorrendo quanto a uma democratização maior do campo sócio-econômico. A concentração de renda aumenta e a distribuição de riqueza é cada vez mais desigual, gerando-se de vastos contingentes populacionais desprovidos do necessário à vida, com mais de trinta e dois milhões de seres humanos passando fome. […] As pessoas não são envolvidas nos planos e nas decisões que as afetam diretamente, nas áreas de habitação, da saúde e da comunicação” (p.287).
“Esses veículos geralmente estão próximos ao local de moradia, de trabalho e de recreação, tendo, por isso, uma grande potencialidade no que se refere a facilitar a participação. Mas há que se descobrir maneiras de conferir à população o poder de criar e de decidir. Só assim a comunicação se torna meio e fim, ou seja, meio e fim se constroem reciprocamente” (p. 288).
“Mas, se a estratégia for a ampliação do status da cidadania, é preciso que, levando em conta seu grau de escolaridade e de experiência, se empreguem táticas que favoreçam o aprendizado crescente da participação. […] Trata-se de um processo que, por nossas especificidades histórico-culturais e educacionais, tende a ser lento” (p.288).
“ […] É perfeitamente viável que a base eleja democraticamente os integrantes da equipe coordenadora, conferindo-lhes um mandato temporário (para evitar o risco de se tornarem donos da comunicação) e revogável (para substituí-los se não cumprirem sua missão). A participação não elimina a representação” (p.289).
“[…] Os canais abertos devem permanecer desobstruídos e acessíveis” (p.290).
“O trabalho, as decisões, as vitórias e os fracassos podem ser compartilhados por todos os membros. Mas, democracia interna não significa cada um fazer o que bem entende” (p.290).
“Admitir o sectarismo no processo comunicativo seria totalmente contrário ao espírito participativo, por se tratar de uma atitude acintosamente antidemocrática” (p.290)
“Em suma, a população, a comunidade ou o associado tem como participar ativamente de sua comunicação. […] O como-fazer democrático, no processo comunicativo, é parte da construção do homem-sujeito” (p.290 e 291).
“Manter programas e matérias total ou parcialmente sustentados numa participação popular ampla, propiciando o acesso ao microfone, ao jornal e a outros veículos. […] É importante que se reproduzam o mais possível as falas e os textos das próprias pessoas e não apenas se faça sua interpretação ou edição” (p.291).
“Incentivar a produção de peças teatrais, debates e outras formas de comunicação” (p.291).
“Montar e aplicar pesquisas de opinião, para colher subsídios que ajudem na produção de uma comunicação sintonizada com a realidade, as necessidades, os gostos e os interesses da população” (p.292).
“Socializar os conhecimentos técnicos a pessoas que não fazem parte da equipe coordenadora, por meio de cursos rápidos ou oficinas de capacitação, com vistas a uma eventual ampliação ou renovação dos quadros” (p.292).
“Avaliar o processo e os resultados junto com todos os envolvidos […] pois os métodos tradicionais do feedback são importantes, mas insuficientes” (p.292).
“Produzir uma comunicação que corresponda mais aos interesses dos destinatários, sem perder de vista seu valor educativo e político, usando linguagens adequadas e que estabelecem empatias” (p.293).
“Proporcionar condições para que a população participe de forma crescente no processo de produção, planejamento e gestão dos meios de comunicação comunitários locais” (p.293).
“Fazer-se cada vez mais presente nos grandes meios de comunicação de massa, divulgando realizações, lutas e reivindicações dos setores organizados das classes subalternas e contribuindo para que se instaure neles uma nova ética e um compromisso efetivo com a sociedade como um todo” (p.293).
“Adequar os veículos de comunicação popular às condições da audiência e da recepção, pois não adianta muito produzir um jornal para uma população de maioria analfabeta ou um programa de rádio que não desperta interesse” (p.294).
“Assegurar a autonomia ideológica, política e metodológica” (p.295).
“A participação e a comunicação representam uma necessidade no processo de constituição de uma cultura democrática, de ampliação dos direitos de cidadania e da conquista da hegemonia, na construção de uma sociedade que veja o ser humano como força motivadora, propulsora e receptora dos benefícios do desenvolvimento histórico” (p.296).
“[…] percebemos que a participação na elaboração de mensagens, na produção de programas, no planejamento e na gestão da comunicação está bastante democratizada ao âmbito das equipes que, em geral, têm o veículo em suas mãos” (p.297).
“[…] já existem experiências mais avançadas, como a da Rádio Enriquillo, na República Dominicana, e a do cassete-fórum, no Uruguai, nas quais a população se envolve na produção de programas” (p.297).
“Podemos depreender ainda que, onde se abriram canais de participação, estes foram aproveitados, embora nem sempre num grau que correspondesse plenamente às expectativas” (p.298).
“Isso confirma que o aprendizado do processo participativo é lento. Além do mais, quando o espaço é cedido de cima para baixo, tende a ser de mais difícil assimilação. As causas estão nas raízes culturais e históricas das sociedades latino-americanas, que, por um lado, geraram uma certa apatia e um sentimento de inferioridade dos “que sabem […]” (p.299).
“Acham alguns que a participação cogestionária e autogestionária na comunicação popular é algo sem sentido, fora de moda ou utópico” (p.299).
“E, se é verdade que os instrumentos massivos chegaram hoje a um grau de desenvolvimento sem igual, também os meios comunitários locais e regionais vêm ganhando espaços em muitos países” (p.300).
“É assim com os movimentos populares, que há mais tempo se colocam em função da mobilização e organização da sociedade civil, na busca do alargamento da cidadania. […] Ela contribui com maior ou menor intensidade para a democracia, dependendo dos instrumentos, das formas e da metodologia que utiliza” (p.301 e 302).
“As experiências mostram que a comunicação popular participativa dá seu aporte à edificação de uma cultura e uma educação democrática. […] Dá voz, pela própria voz, a quem era considerado “sem voz””. (p.302).
————————————————————————————————————————————————-Poesia lida por João Gabriel
O QUE PROCURO EU, NÃO SEI !
Eu reuni muita coragem,
Para sair procurando
E para fazer esta viajem,
Não sair a esmo caminhando.
O que procuro eu, não sei!
Mas sei que falta algo em mim
E não está por onde já passei.
Quem sabe estará na mesma estrada, bem no fim!
Dizem que no final do arco-íris,
Tem um pote de ouro,
Não busco esmola, não tenho na mão um pires,
Tão pouco quero um tesouro
Talvez busque a verdade…
Talvez a razão…
Quem sabe a felicidade
Ou paz no coração
O que eu procuro, o que procuramos todos,
Sim, porque não há quem não tenha algo a procurar.
Procurando podemos encontrar até flor no lodo
Ou um ombro amigo em que se possa soluçar.
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Fanzine – FALA ALTO – Raissa Nascimento
Link: http://www.unicap.br/assecom2/boletim/2009/Agosto/boletim_12.08.2009.html
Vídeo: Grupo de Mulheres Ativas e, Projeto Juventude, Arte e Cultura, apresentados no programa AÇÃO, rede Globo, em 05/06/2010
“Agora a gente conhece o mundo e o mundo conhece a gente” – http://g1.globo.com/acao/noticia/2010/06/atuacao-das-mulheres-e-fundamental-para-melhorar-convivencia-do-sertanejo-com-caatinga.html
“Pra gente ser alguém não precisa sair do seu lugar, aqui a gente faz a diferença” (Josias Lopes, estudante, Projeto Juv. Arte e Cultura) – http://g1.globo.com/acao/noticia/2010/06/projetos-com-foco-na-educacao-sao-caminho-para-evitar-o-exodo-rural-de-jovens-na-caatinga.html